sexta-feira, 28 de março de 2008

Foto: Site UOLA casa não caiu, Casão

Por Sérgio Xavier

Walter Casagrande Júnior é um fenômeno. Na peneira cruel do futebol, poucos são retidos pelas tramas do sucesso. Casão foi um deles. Conseguiu ser ídolo no gigante Corinthians, para não falar de São Paulo, Porto, Ascoli, Torino e Flamengo. A parada de um craque costuma ser ainda mais ingrata. Geralmente, é ladeira abaixo. Casagrande contrariou a lógica depois de pendurar as chuteiras. Ao se tornar comentarista, ficou ainda maior. Se como jogador foi um dos 20, 30 de seu tempo, como analista de futebol chegou ao topo. Ao lado de Paulo Roberto Falcão, forma a linha de frente da TV Globo.

Só por isso Casagrande já mereceria a atenção especial da Placar. Ele estampou 18 vezes nossa capa. Pelos gols, pelas frases, pelas atitudes. Casagrande contrariava o senso comum. Para ele, tão importante quanto dar alegrias ao torcedor era se posicionar como cidadão. A favor da liberdade, contra a ditadura em que o país ainda estava metido naquele início dos anos 80. Ele foi linha de frente da Democracia Corintiana, o movimento que aboliu a concentração e injetou o debate franco nos vestiários.

O personagem público, no entanto, sempre escondeu as fragilidades do ser humano. Casagrande tentou acomodar em uma mesma carcaça o profissional de futebol e o garoto que queria viver a vida. Treinos nunca combinaram com álcool, baladas, shows de rock e diversão sem limite.

Quando virou comentarista, o caos pessoal se acentuou. Muito dinheiro no bolso, pouca cobrança profissional e uma entourage sempre pronta para apagar os incêndios. Quando se atrasava ou simplesmente faltava aos compromissos, sempre havia um amigo para resolver a parada. Sim, porque Casagrande é, antes de tudo, um sujeito fascinante. Boa conversa, coração grande, caráter enorme. Na Copa de 2002, por exemplo, teria pegado o locutor Galvão Bueno pelo colarinho. O motivo: em um ataque de fúria, Galvão teria tratado mal funcionários da Globo e Casão teria tomado as dores dos subalternos.

O sujeito legal só não era legal com ele mesmo. Mesmo com hepatite, bebia. Perdia peso e a consciência de seus problemas. Estava longe da família, sobretudo dos três filhos. Talvez o capotamento do Cherokee possa ajudar Casagrande a colocar suas rodas no chão. É muito talento para se perder em uma viagem sem rumo e sem sentido.


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